terça-feira, 17 de abril de 2012

Descrentes dos crentes: a igreja sem credibilidade no mundo


Descrentes dos crentes: a igreja sem credibilidade no mundo

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Por: Jailson Santos


INTRODUÇÃO

Alguns missionários que trabalhavam na Índia pensaram em uma estratégia que poderia trazer um verdadeiro avivamento para o País. Eles disseram: “Se nós conseguirmos evangelizar o líder do hinduísmo Mahatma Gandhi e o ganharmos para Cristo, toda nação indiana será impactada por esse testemunho”. Convictos da sua estratégia foram ao encontro de Gandhi para persuadi-lo a ser o cristão, entretanto no meio da conversar ouviram de Gandhi: “No vosso Cristo eu creio eu só não creio é no vosso Cristianismo [sem vida]”.[1]

O que aqueles missionários ouviram de Gandhi é o que constantemente ouvimos sobre o cristianismo brasileiro. São pessoas que acreditam em Cristo,[2] mas são descrentes em relação os crentes. Acreditam em Deus, todavia não acreditam na Igreja como uma instituição divina.

Segundo as estatísticas sobre a religião brasileira, um dos percentuais que mais crescem é os dos “sem religião”. Em 1950, “os sem religião” eram aproximadamente 0,5% da população; em 2000 (ano do último Censo), passaram a ser 7,4%, proporção 14 vezes maior. Hoje eles já são a terceira maior “identidade religiosa” do País, estando atrás apenas dos católicos (70%) e dos evangélicos (17%). [3]

Esses não são adeptos da “não religião”, por serem ateus, mas são que já freqüentaram uma Igreja e viram algumas razões para não crerem nela como uma instituição divina. Decepcionados com a Igreja, descrentes dos crentes e convictos que as demais religiões não os levariam a Deus, optaram em ser “sem religião”.

Por que os “sem religião” crescem tanto? Por qual razão a sociedade brasileira não acredita na Igreja como antes? Podemos resgatar a credibilidade da Igreja? O que devemos fazer?

Este artigo tem como objetivo analisar e estudar o assunto, dentro de uma cosmovisão reformada. Não pretendemos aqui esgotar o assunto em sua inteireza, pois o mesmo é amplo, o que esta pesquisa deseja é estudar as principais razões pelas quais a Igreja contemporânea tem perdido a credibilidade da sociedade, alertar a Igreja sobre o assunto e propor uma resposta às questões levantada. Além disso, mostrar que o avivamento bíblico e genuíno é a melhor resposta aos desafios de nossa época.


POR QUE A IGREJA ESTAR SEM CREDIBILIDADE NO MUNDO?

Não são poucas a razões pelas quais a igreja tem perdido a credibilidade diante do mundo. Aqui citaremos apenas algumas.

1.1. Razão externa: O pluralismo religioso e a relatividade da verdade.

Segundo o Dr. Herber Campos as últimas décadas do século XX têm sido caracterizadas por movimentos filosófico-teológicos que romperam com tudo o que, historicamente, tem sido crido como verdade fundamental, da qual não se poderia abrir mão.[4] Com nomes diferentes, tais como secularismo, relativismo, pós-modernismo e pluralismo,[5] eles defendem a mesma causa e levantam a mesma bandeira.

Estes movimentos, não reivindicam ter a verdade e condenam qualquer ideia de verdade absoluta.[6] Para os pluralistas a multiplicidade de conceitos sobre o exercício da fé, das crenças (Deísmo, Teísmo, ateísmo, politeísmo, seja quanto for), compreende a essência do pensamento humano e seu direito em crer ou deixar de crer no que quiser, sem ser discriminado por isso. A crença do individuo e sua verdade. Para eles pode-se até dialogar, desde que aja “tolerância”, o que para eles é quase um sinônimo de concordância.

Essa relativização da verdade tem tido grande influência a visão da sociedade com relação a igreja. São com “óculos” relativistas e pluralistas que a sociedade ver a Igreja. E a conclusão que muitos tem chegado é: ser a verdade não é absoluta, logo, a igreja não pode ser a razão de uma crença absoluta e não é digna de todo o crédito. Razão pela qual segundo eles “todas as religiões devem ser tratadas numa base politicamente igual”.[7] Este relativismo contemporâneo ataca a principal arma do cristianismo, isto é, a Bíblia. Sem o “status” de ter a verdade absoluta a igreja dia a após dia tem perdido a “credibilidade”, na visão relativista contemporânea.

1.2. Razões Internas

Hoje em dia dizer que é um cristão não é sinônimo de credibilidade. Se você estiver conversando com alguém e no meio da conversa disser que é um pastor, pode até perder um possível novo amigo. A Igreja como instituição, tem perdido a credibilidade e a sociedade está descrente dos crentes. Tudo isso são por razões internas do próprio cristianismo atual. Aqui apresentaremos algumas razões da falta de Credibilidade.

1.2.1. Escândalos envolvendo lideres.

Não precisa sem bem informado para tomar conhecimento dos escândalos que envolvem lideres, políticos e de pessoas que se dizem evangélicas. As várias e repetidas decepções com líderes tem levado sociedade à resignação. Uma pesquisa organizada pelo instituto LifeWay Research, nos Estados Unidos, feita no final de 2006, mostrou as principais causas que levam uma pessoa a mudar de igreja, dentre as razões 74% estava envolvia o testemunho da igreja, liderança e principalmente do Pastor.[8]

Esta é uma realidade nos quatros cantos do mundo. A igreja evangélica brasileira tem sido, via de regra, marcada por uma mentalidade consumista, materialista, hedonista e pragmática, como o restante da sociedade. A visão mercantilista de igreja tem feito da igreja evangélica no Brasil objeto de escárnio e deboche. A mídia expõe com frequência os escândalos morais de líderes evangélicos brasileiros. O sal tem se tornado insípido e não tem servido senão para ser pisado pelos homens. Esse comportamento escandaloso ridiculariza a Cristo, prejudica o evangelismo e destrói a credibilidade do cristianismo em nosso país.[9]

1.2.2. Um deus chamado $ e a Igreja materialista.

Em algumas denominações ou comunidades a igreja se tornou um negócio, pastores se tornaram executivos, o ministério um gerenciamento. Estas tem sido guiadas mais pelas leis do mercado como a produtividade, performance, faturamento, profissionalismo, qualidade, nichos de consumidores e estratégias de marketing, do que pela Palavra de Deus. Apresentam um Jesus Cristo atraente, prometemos a salvação no céu e a prosperidade na terra, sem precisar renunciar a nada. Palavras como sacrifício, pecado, arrependimento, negar-se a si mesmo, foram substituídas por decretar, determinar, conquistar, restituir, saquear. [10]

Além disso, movidas pela teologia da “prosperidade” ou “confissão positiva”, muitas Igrejas estão se tornado materialistas. Pregam sobre dinheiro e por dinheiro, prometendo o que Deus não prometeu, levando muitos, à decepção religiosa e por fim a descrença. Essa e outra razão da descrença da sociedade em relação aos crentes.

1.2.3. A geração “Gospel”.

Ser gospel está na moda. Os artistas são gospel, pessoas importantes são gospel, é a geração gospel. Todavia esta palavra é sinônima de evangélico, mas está longe de o ser na pratica. A geração gospel é uma geração de convencidos e não de convertidos. Anos atrás uma Monique Evans apresentadora de um programa (não recomendado para menores de 18 anos), foi Converteu a geração gospel, e questionada por algum por continuar a fazer o mesmo programa depois da “conversão” disse: “Eu me converte, mas não precisei mudar nada na minha vida Jesus me aceita do jeito que eu sou”. Essa é a geração “gospel” é uma das razões pela qual a sociedade não acredita na Igreja como antes.

1.2.4. Vivendo a verdade como se fosse uma mentira.

“Eu creria na sua salvação se eles [os cristãos] se parecessem um pouco mais com pessoas que foram salvas”. Essa afirmação dita por Fiedrich Nietzche, no final do século XVIII, nunca foi tal atual como nos dias de hoje. O cristianismo estar cheio de pessoas que vivem a verdade como se fosse uma mentira. Pessoas que vivem o que não pregam e pregam o que não vivem.

O professor Hugh Black, no seu “Serviço de amor de Cristo”, disse que uma jovem judia, que é agora Cristã, pediu a certo senhor que lhe havia dado instruções a respeito do Evangelho, que lesse com ela a história. Porque, disse ela: “Tenho lido os Evangelhos e estou perplexa. Quero saber quando os cristãos deixaram de ser tão diferentes de Cristo”[11] Essa é a realidade atual, um cristianismo que tem o rotulo de Cristo, mas nenhum conteúdo dEle.

O Rev. Elben M. Lenz César falando sobre a crise da igreja contemporânea diz: “Não temos defesa: estamos desacreditados diante do governo (também desacreditado), diante dos críticos, diante dos antigos simpatizantes, diante dos opositores, diante da mídia (caçadora de escândalo) e diante do povo.”[12] E acrescenta:

“Lamento muito ser obrigado a admitir que faço parte do grupo que acredita que a igreja está desacreditada. Basta ler O Escândalo do Comportamento Evangélico, de Ronald J. Sider, recentemente publicado no Brasil. Embora o autor se refira aos maus testemunhos dos evangélicos americanos, o problema é universal (...) Sider cita Michael Horton: ‘Os cristãos evangélicos estão aderindo a estilos de vida hedonistas, materialistas, egoístas e sexualmente imorais com a mesma proporção que o mundo’ (...) Se já não somos o sal da terra, a luz do mundo e o bom perfume de Cristo, não servimos para mais nada, exceto para sermos jogados fora e pisados pelos homens, de acordo com Jesus”. [13]

1.2.5. Rótulo do cristianismo sem conteúdo de Cristo.

Vivemos na epoca do vazio. A manipulação estar substituindo o conhecimento de Deus e sua Palavra em nossas igrejas. Não são poucos os que tem a cruz de Cristo no peito, mas não tem Cristo na mente. Os membros das igrejas são recebidos, mas não são instruídos; são animados, mas não são ensinados. As pessoas então adorando há um Deus que elas não conhecem. A verdadeira adoração requer o envolvimento do coração e da cabeça. O culto do coração, sem o entendimento, é forma errada de adoração, conforme o Senhor Jesus Cristo.

Muitas igreja são como os ateniesses no Areopago. O altar estava ali, adoração estar sendo realizada, mas o Deus é deconhecido. A cena é parecida demais com a igreja moderna. Muitas nada mais falam de Deus e se resumiram apenas a uma ajuntamento de pessoas, um verdadeiro clube social, onde tudo é supeficial, inclusive o estudo sobre Deus. O carater de Deus é desconhecido. Falando sobre a necessidade de conhecermos a Deus com o coração e a mente Sproul lembramos que:

“Se entendermos o caráter de Deus. então a doutrina da Escritura, a dou­trina de Cristo e tudo mais se encaixa. Por outro lado. pode tudo mais estar certo exceto sua doutrina sobre Deus, e você ainda será um pagão. É ainda um idólatra. Pode ser um inerrantista, pode ser que sua escatologia esteja certinha, pode ser que você não deixe de fazer seu culto individual ou ir à igreja. Mas se não estiver adorando o Deus certo, você estará adorando e servindo a um Deus falso, E imprescindível que conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor” (Os 6.3). [14]

Essa falta de conteúdo de Cristo na vida daqueles que são ou se dizem seus seguidores tem tirado a força do testemunho da verdade e a credibilidade da mensagem do evangelho.

1.2.6. Ortodoxia sem ortopraxia.

Há muitas igrejas que são ortodoxias, zelam pela doutrina e pela fidelidade na Palavra de Deus, todavia essa fé não é evidenciada na sociedade. Todo extremo é um erro. Ser cristão ortodoxo nos livra dos erros que citamos acima, mas não viver a verdade na prática com a pregação do evangelho e, dentro de uma visão calvinista buscando a transformação da sociedade que vivemos, é fazer do cristianismo algo árido e sem vida e sem sentido para a sociedade a nossa volta. A razão disso é que a igreja tem muita ortodoxia, mas não tem nada de ortopraxia. Igrejas que fecharam os olhos prática que o evangelho pressupõe.[15]

O Dr. Heber Campos diz que um dos desafios da igreja neste mundo pós-moderno é o de não tornar um gueto. A Igreja cristã, diz ele “não deve se isolar, embora deva proteger a verdade. Ela deve aceitar o desafio de contrariar o espírito do tempo presente como uma espécie de “contracultura,” saindo para minar os campos alheios. Se não fizer isso a igreja vai perder a sua verdadeira identidade”. [16]

Muitas igrejas são ortodoxias mais irrelevantes em sua atuação no mundo. Dizem ter tradições reformadas, mas não segue o verdadeiro pensamento dos reformadores. Dr. Abraham Kuyper falando sobre Calvino, o qual muitos ortodoxos dizem seguir, diz que o pensamento deste Genebrino não deve ser visto apenas como um conjunto de dogmas teológicos que teve influência no meio eclesiático, mas que tem sido antes de tudo, uma filosofia de vida que tem afetado a sociedade e os indivíduo como um todo. [17] Segundo ele “A visão teológica de Calvino permeada pela soberania de Deus, fez com que ele procurasse relacionar a aplicação desta soberania às diversas atividades culturais do ser humano”.[18]

Os cristãos foram postos no mundo para ser a consciência da sociedade, e não para se fecharem em si mesmos. A Igreja deve ser a voz do que clama no deserto a fim de fazer a diferença no mundo. “o reino de Cristo é também externo”,[19] dizia Zuínglio que foi ao mesmo tempo pastor e patriota, teólogo e político. Uma vez salvos e inseridos na família de Deus ele nos chama para cuidar do mundo que vivemos e, uns dos outros.[20] Na verdade, a igreja necessita deixar o monte da transfiguração e descer até ao povo sofrido onde se encontram os perdidos da sociedade. Esta falta de prática das verdades as quais os cristãos dizem crer é uma das razões pelas quais a sociedade estar descrentes dos crentes.

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Fonte: [ Blog do autor ]
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